Eu ví Hairspray!

Depois de dias complicados consegui escrever sobre minha experiência com o espetáculo Hairspray! O musical ficou em cartaz nos últimos dias 8,9 e 10.04 no Teatro Margarida Schivazzapa em Belém (PA) e fui graças ao convite mais que respeitoso do diretor da peça, Paulo Fonseca, o famoso (ou como ele mesmo disse: “conhecido”) Paulão. 
 
O contato foi feito por conta do interesse profissional que minha equipe e eu tivemos para sortear um par de ingressos no programa Estação Direitos da Rádio Margarida, a qual sou diretora geral. Afinal de contas, a temporada de estréia da versão paraense do musical originalmente americano foi super comentada, e o retorno era esperado por muitos (inclusive por mim). 
 
Garantida a oportunidade, quem me acompanhou com muita felicidade foi minha filhota, Duda Mel. Ela adora o filme! E adianto que também amou a experiência de ver atores ali na sua frente, ao vivo, mostrando as músicas e falas marcantes de um de seus filmes preferidos!
Bilheteria momentos antes de iniciar a peça.

Chegando ao Teatro
A certeza em ver o espetáculo aumentou consideravelmente minhas expectativas, e de alguns amigos, que comentaram a repercussãodo post que fiz neste blog sobre o texto escolhido para adaptaçãoda peça. Muitos acabaram levando minha avaliação sobre questões de recurso e investimento, para a qualidade da montagem. O que ocorre de fato somente agora!
Entrevista com Paulão.Perdida infelizmente.

Cheguei ao teatro por volta das 18:50h e – como prometido – fui recepcionada pelo Paulão que cedeu uma entrevista gravada. Mas INFELIZMENTE o MP4 que usei foi corrompido antes mesmo de fazer a decupagem do material. TRÁGICO! Mas vou citar alguns dizeres dele que consigo lembrar!


Primeiras impressões
Plateia cheia, pouquíssimas cadeiras vazias, a peça começou aproximadamente com meia hora de atraso. O que provocou uma leve pressão das pessoas já impacientes. Sentimento logo superado pelo abrir das cortinas! E na primeira cena vemos Tracy Turnbled com a canção de abertura “Good Morning Baltimore”. A empatia de Lucinha Bastos é indiscutível. Ela ganhou a plateia logo neste momento e fez a gente se emocionar em vários outros!
Lucinha Bastos, como Tracy em Hairspray.
Daí por diante a cronologia da peça seguiu a mesma do filme, a ponto de saber qual seria a cena seguinte. Mas não menos interessante já que a grande curiosidade era em ver como seria a adaptação desses momentos tão especiais para mim. 
 
E foi nessa mistura de sentimentos que veio o primeiro “cair de ficha”: conceber que teatro é obviamente diferente do cinema. O “entrar e sair” de cena é o equivalente ao recorte da edição de vídeo, e que algumas vezes o que ia ser apresentado poderia não me satisfazer. No entanto, a escolha do diretor naquela tal cena poderia ser a mais adequada. 
 
Aí caiu a segunda ficha: qual o parâmetro de avaliação que devo utilizar vigente tantas diferenças de linguagem? Escolhi então avaliar o espetáculo considerando dois pontos norteadores: O que foi conseguido com os recursos disponíveis (tanto material quanto de pessoal) e qual a carga emocional despertada a partir do que foi mostrado. 
 
Até parece um trabalho acadêmico né? Mas foi a forma encontrada por mim que pudesse dissertar de forma a somar criticamente, e ao mesmo tempo respeitar o trabalho alheio.

Por que escolher Hairspray?
Na entrevista, Paulão me contou o processo de escolha da história a ser contada neste projeto ocorrida em uma de suas viagens a São Paulo, quando teve a oportunidade em assistir a montagem oficial brasileira. E se encantou com a forma leve, divertida e “escrachada” com que a segregação e discriminação racial e de outros esteriótipos fora dos padrões ditos “normais” de beleza, eram tratados em Hairspray. 
 
Segundo Paulão, o projeto começou em junho de 2010 e foi motivado pelo desejo em realizar o sonho de montar um novo e atual musical em Belém, movimentar o cenário teatral da cidade, além de valorizar a mão-de-obra local de atores que cada vez mais se profissionalizam agregando a dança, o canto e a interpretação.

E não é para menos. Com atividades mais aquecidas na Escola e curso superior de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará – UFPA, Belém pode estar virando um verdadeiro celeiro de talentos ávidos por uma oportunidade. Além claro das escolas de música do Carlos Gomes e da Universidade Estadual do Pará – UEPA, também tradicionais no seguimento cultural.

Narrando uma história
A escolha narrativa não poderia ser diferente da já estabelecida no espetáculo original e no filme. Há muitos pontos autos, como por exemplo, a cena em que é posto paralelamente o cenário do Cornyn Collins Show e a Sala de estar da casa de Tracy que corre desesperadamente para casa a tempo de curtir o seu programa de TV preferido! Essa disposição tornou as situações nas cenas dinâmicas e especialmente divertidas!

Outra cena que ficou muito bem construída e envolvente foi na sala de detenção da escola onde Tracy conhece os novos amigos. É o momento de apresentação do núcleo negro do espetáculo, quente e cheio de personalidade. Aliás é o único momento em que vemos Lucinha Bastos "incorporando" a alma dançarina de sua personagem, dançando do jeito que (credito!) deveria ter segurado por todo o espetáculo.

Tracy apresentando Baltimore para a plateia(primeira cena).
Mas em algumas cenas ocorreram pequenos ruídos no “acabamento”. O primeiro exemplo ocorre logo na primeira cena. Vemos Tracy apresentando Baltimore no caminho até a escola. Com os recursos possíveis no espetáculo, vemos que a personagem fica somente andando de um lado para o outro do palco, entoando a canção de abertura com um painel ao fundo numa imagem genérica e um grupo de pessoas ao fundo, em silencio a maior parte da cena. Senti falta de “algo a mais”.

Já no segundo exemplo Tracy está em sala de aula, distraída, pensando no seu sonho de ser famosa e dançar na TV, quando é interpelada pela professora no meio da aula, que a manda para a detenção. Na peça a sala de aula acabou não sendo muito bem estruturada, e o recurso usado acabou dispersando demais a situação que é emblemática quanto ao desinteresse da personagem pelos estudos e os seus efeitos dentro da escola. A conversa pareceu que poderia ocorrer em um lugar qualquer. 
Tracy em "sala de aula" quando a professora a manda para detenção.
 
No mais, as cenas mais cativantes ficaram por conta dos pais de Tracy, Edna Turnblad e Wilbur Turnblad, interpretados pelos atores Emanuel de Freitas e Paulo Nazareno respectivamente. De longe os atores mais soltos e “impregnados” com os seus personagens!
Emanuel de Freitas e Paulo Nazareno. Merecidamente ovacionados!
Vozes do espetáculo
O canto é a parte quase impecável do espetáculo! Nem preciso falar da qualidade vocal de Lucinha Bastos. É chover no molhado. Mas o diferencial foi a técnica usada por ela que atribuiu uma voz mais próxima de uma adolescente possível ao cantar e falar, sem caricaturas ou exageros.

Outro maravilhoso fato que despertou felicidade imensa foi a densidade vocal do espetáculo. TODOS fazendo solos muito bem ensaiados com talentos que não dão para ignorar. Destaco o ator interprete de Seaweed Stubbs, que infelizmente não consegui saber o nome da persona. Ele marcou forte com seu canto e presença de palco. 
Núcleo da comunidade Negra da história, liderada neste momento por Seaweed.
 
A interprete de Motormouth Maybelle é igualmente inesquecível com sua voz arrepiante e mais próximo do chamado “diva's voice”. E a caracterização de personagem mais “IDÊNTICA” foi a da interprete de Inez Stubbs, que tem uma voz empolgante!
Motormouth liderando a festa na ultima cena do espetáculo!
E claro, o trio vocal de meninas lindas que faziam os backs nas canções. Foi o grande brilho musical do espetáculo já que dava o acabamento qualitativo aos instrumentais (todos playbacks).
O impressionante trio vocal que enriqueceu muito o espetáculo!
Perdoem-me não citar nomes! Acreditei que pudesse encontrar na net, por isso não fui perguntar depois do espetáculo ao Paulão. Conforme for descobrindo, ou sendo informada, faço as alterações!!

Mas vocês foram incriveis!!

O que não foi tão legal
Houve duas grandes características da peça que não funcionaram nesta montagem de Hairspray: a primeira delas foi o personagem Link Larkin, que deveria ser O Galã da peça, mas não mostrou o charme, carisma e o “borogodó” que justificam o alvoroço e desejo juvenil das meninas por ele. Não consegui “sentir” o personagem, deixando a história carente.
"O Galã" Link Larkin e Velma von Tussle, diretora do programa de tv.
O outro fator foi a quase ausência de danças nos pés da personagem principal. E isso ficou evidente em três grandes cenas de Tracy que deveriam mostrar todo esse potencial: Uma é o momento em que ela “arranca” da concorrencia a vaga para compor o elenco de Corny Collins Show, onde ela deveria liderar a coreografia. Infelizmente ela fez um solo muito simples e nada que me fizesse acreditar que ela merecia aquela vaga. 
 
Os outros dois momentos também são decisivos, já que um diz respeito a sua estreia no Programa de TV e a outra é no encerramento quando ela faz um “Grand Finalle” com o seu par romantico. Em ambos os mometos Tracy poderia mostrar para todos o que lhe torna merecidamente famosa. Pena que este convencimento ficou apenas na cena em que ela vai para a detenção pela primeira vez, como já dito neste texto.
Tracy no "grand finale" do espetáculo. Podia ter mais dança nos pés dela!
O que "Hairspray" Marajoara contribui na cena teatral de Belém?
Apesar de minhas ponderações, a montagem deste musical em Belém mostra que há possibilidade de explorar o campo musical no teatro paraense com qualidade. Há muitas pessoas que se dedicam para conquistar o aperfeiçoamento vocal, expressão de corpo e a interpretação, aliando esses três elementos em prol do avanço qualitativo da produção cultural paraense.
Paulão cercado pelo elenco, agradecendo a todos!
Enxerguei esse cenário vantajoso tanto para o comércio, quanto para as centenas de alunos e professores que trabalham neste mercado. Somos um país musical, com influências culturais de diversas naturezas, que nos dispões a construir novas ideias criativas e valorosas.
Todos do elenco no palco!
Eu quero ver mais musicais nesta cidade! E poder presenciar o crescimento dessas pessoas apaixonadas pelo que fazem. Ganhamos nós, nossas artes e cultura amazônica!

Ah! E Paulão prometeu uma nova temporada ainda este ano, mas no grandioso palco do Teatro da Paz! Será emocionante. Tenho certeza! 


Só espero que consigam mais apoios financeiros para que o ingresso não fique salgado! (Pedido de quem quer recomendar!)


Luciana Kellen
Jornalista Paraense


Comentários

Jessyka Sampaio disse…
Obrigada Luciana, que bom que você pôde nos assistir e dar a sua sincera opinião. As críticas assim são bem vindas. ^^

Estamos trabalhando para que o cenário de musicais em Belém cresça! Esperamos conseguir xD

Abraço,

Jessyka Sampaio
Luciana kellen disse…
Muito obrigada Jessyka pela visita e comentário!

"Merda" pra vcs e vida onga aos espetáculos paraenses!

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