Eldorado na Cultura FM

Muitos momentos de aprendizagem pude usufruir em minha estada na Rádio Cultura FM. Além de ter conhecido pessoas importantes, inteligentes e caridosas do mundo da comunicação e da radiodifusão (qualidades nem sempre encontradas na mesma pessoa), assumi algumas responsabilidades que me permitiram construir e vivenciar acertos, e muitos erros! (muitos mesmo).
Dentre o planejamento de atividades da emissora para datas especiais, fizemos um programa Matéria Prima especial sobre os 13 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, no último dia 17 de abril. Fiz uma parceria muito produtiva com a jornalista Christina Hayne, e com a importante colaboração também do nosso produtor musical Patrick Torquato. Além da também jornalista Lorena Filgueiras, com análises providenciais e sensatos em nossos rumos.
Abordar o assunto e decodifica-lo para compor uma programação de rádio deu um trabalho enooorme!! Juntar as entrevistas dos personagens, fazer uma criteriosa pesquisa sobre o assunto e ainda ter que tomar cuidado com os termos abordados, já que seria veinculado em um emissora pública, foi comlicado. Lidar com as questões politicas é maravilhoso, se você não deve satisfação à ninguém do meio.
O caráter social do Jornalismo parece ficar sempre em segundo plano, quando o interesse de poucos entram em questão. Mas conseguimos fazer programetes com o maior número de infomações possiveis, sem ter que prestar contas com o governo do estado ou assossiações envolvidas no caso.
Infelizmente não disponho do programa em audio, ou ao menos as matperias agora. mas postarei assim que retornar a Cultura para salvar em meus arquivos pessoais.
Eu sei, já deveria ter feito isso! Podem cobrar!!!
Por enquanto leiam a minha reportagem sobre o assunto que fiz para a disciplina de Estudos sobre a Opinião Pública.
Boa leitura!
Um massacre que não pode ser esquecido
“Nesse dia foi muito triste. Muitos tiros, muitos gritos, muitos pais de família morrendo a bala fria (sic) pela mão da policia militar” –
Gouveia, sobrevivente do Massacre de Eldourado dos Carajás.

O relato de um dos sobreviventes do massacre de Eldorado dos Carajás descreve uma das visões sobre um fato que transformou os rumos da questão agrária no Brasil. Governo, movimentos sociais e estudiosos podem divergir sobre as propostas para dar fim aos conflitos agrários, mas são objetivos quanto a um ponto: é preciso não repetir os mesmos erros!

Por Luciana Kellen


O dia 17 de abril de 1996 foi marcado por uma tragédia anunciada: cerca de 150 famílias do movimento sem-terra caminhavam em direção a capital do Pará, Belém, para pressionar o Governo do Estado a desapropriar a fazenda Macaxeira, localizado no município de Eldorado dos Carajás. O encontro dessas famílias com 155 policiais militares na curva do “S”, exatamente no quilômetro 96 da PA150, culminou numa guerra filmada e exibida em todas as emissoras de televisão do mundo. Uma guerra entre as armas de fogo dos policiais militares, e as foices e facões dos sem-terra.


Um roteiro perfeito para alusões e explorações sensacionalistas, se vista como um fato isolado. Mas o episódio foi o ápice de uma história cheia de negligência e desinteresse por resolver a questão fundiária no Brasil.


Marcas históricas
Segundo análise do cientista político Raul Navegantes, no Pará os conflitos agrários têm origem na própria formação populacional do estado. O cientista descreve que as primeiras ações governamentais direcionadas ao campo começaram no ano de 1960, no governo de João Goulard com as Reformas Base. Era um conjunto de políticas públicas que previa desapropriação de mais de 600 hectares de terras, em uma época que a população rural era maior que a urbana em nosso país.


Os chamados “terra tenentes” não viam esse incentivo ocupacional como algo vantajoso. Eles eram “senhores da região” que já habitavam em suas grandes propriedades de terras no Pará, e entendiam que havia uma invasão de suas propriedades por esses imigrantes vindos das mais diversas partes do Brasil.


As diferenças foram agravadas com os “Grandes Projetos” da década de 70, que incluía construção de ferrovias, rodovias e ainda mais distribuição de terras. O cientista analisa ainda mais fundo: “Anteriormente as populações que eram rarefeitas naquele espaço, eram populações "dóceis", que eram secularmente dominadas. As populações novas não. Elas traziam a vontade de independência, a vontade de se implantar, a vontade de serem senhoras de si mesmo. E aí a origem dessa tensão”.


O crescimento populacional no campo exigiu uma maior organização, principalmente em relação à defesa e conquista dos interesses das pessoas que chegavam à região. Foram associações e movimentos que surgiram, de forma mais intensa, após a constituição de 1988, e foi o caso do Movimento dos Sem-Terra. O MST!


O poder das Associações
O MST surgiu em um contexto sóciopolítico que contestava a ditadura e buscava novas conquistas trabalhistas. A primeira reunião oficial do movimento ocorreu no ano de 1984, participando e organizando encontros que pressionasse os governantes e a sociedade da época a pensar a questão agrária brasileira.


Essas experiências e posteriores conquistas, como nas emendas da Constituição de 1988, transformaram o movimento no maior exemplo de união da sociedade civil pela conquista da terra. Toda a visibilidade que o MST tem hoje, coloca o movimento sempre na linha de frente de criticas e contestações, principalmente no que se refere a forma como alguns grupos de dentro do movimento manifestam suas insatisfações.


O atual Deputado Federal Airton Faleiro destaca o Massacre de Eldorado dos Carajás como um marco transformador no modo de trabalhar a garantia de direitos dos que lutam pela terra, e principalmente no olhar dos governantes para a questão agrária brasileira. “O movimento social após o massacre foi pra ofensiva, tendo apoio externo de diversos seguimentos urbanos, resultando na distribuição e redemocratização da terra naquela região”, afirma Faleiro que era líder sindical na época do massacre.


Ainda segundo Faleiro, houve uma facilidade maior nas conquistas de antigos sonhos, que viraram políticas públicas após o massacre. “Mas tem ainda muita coisa pra fazer, e não podemos esquecer que nos governos democráticos há uma facilidade maior nas conquistas de políticas públicas. E o papel do movimento social é sempre cobrar mais”, afirma o deputado.

E se não tivessem filmado?
As imagens do encontro entre trabalhadores rurais e policiais militares na PA150 foram exibidas em emissoras de televisão do mundo inteiro. A repercussão foi tamanha que organizações e grupos de defesa dos direitos humanos do Brasil e de algumas partes do mundo, se manifestaram exigindo providências que apurassem as causas e responsabilidades sobre o episódio.


O jornalista Edir Girllet participou do processo de produção e apuração com a equipe que estava acompanhando a ocupação na Fazenda Macaxeira, e afirma que o massacre de Eldorado dos Carajás não teria a importância que tem se não tivesse sido registrado. “Se não, seria mais um crime contra o trabalhador que ficaria impune. As imagens serviram de prova judicial, sendo fundamentais para cair por terra a versão do Governo do Estado, de que os trabalhadores rurais haviam atacado a policia”, analisa o jornalista.


O também jornalista e sociólogo Manoel Dutra vai mais longe, afirmando que todo o contexto histórico e as condições daquele momento para conflitos na região, seria somente uma questão de tempo que fatos como o do massacre de Eldorado dos Carajás ocorresse. “Aquelas imagens fortes, daquelas pessoas empobrecidas correndo com paus e pedras contra uma tropa armada fuzis e metralhadoras, foram o detonador de todo um debate que se seguiu no Brasil e por todo o mundo”, discorre o jornalista sobre a importância do registro do fato para a opinião pública se manifestar sobre os conflitos de terra.


Remediar acontecimentos extremos como o de Eldorado dos Carajás alimenta novas possibilidades de conflito em nome da terra, já que o combate às suas causas reais não são inclusas nas políticas públicas, ou discussões na sociedade civil de forma geral. “Eu não tenho dúvida de que o potencial para que fatos como o de Eldorados dos Carajás possa se repetir. Existe o potencial de novos conflitos nessa proporção, por que outros estão acontecendo em proporções menores, como o da freira Dorothy Stang, o bispo de Altamira e tantos outros trabalhadores rurais que são mortos e ameaçados”, analisa o sociólogo paraense.

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