Chico além da personificação
No ultimo dia 14.04, quarta-feira promocional do Moviecom, assisti o filme "Chico Xavier" depois de muitos dias de tentativas sem sucesso! Criei muita expectativa sobre o filme de nosso Amigo “X”(carinhosamente chamado por alguns jovens espíritas, e naturalmente adotado por mim) e sabemos que não é bom sentir isso em excesso, pois os riscos de decepção é quase certa (que o diga “Fim dos Tempos e “Guerra dos Mundos”, por exemplo). Adianto que não foi o caso.
A prova do "crime"!
Desde o primeiro segundo em que soube que iriam produzir um filme sobre a vida de Chico Xavier esbocei preocupação, e o motivo maior era a possível exploração do lado sensacionalista em que manifestações mediúnicas podem ser tratadas. Tempo depois foram divulgados os responsáveis pela adaptação, o que despertou certa alegria interior, na verdade uma despreocupação quanto o possível foco de abordagem da narrativa.
A primeira cena do filme é a ação de um gesto corriqueiro do médium. A partir de uma perspectiva diferenciada, gotas do colírio caem nos olhos do Amigo “X”antes de entrar no programa "Pinga Fogo" onde foi sabatidado por aproximadamente três horas sobre seu dom, a relação com Deus e as acusações de fraude que sofria. Essa abertura, muito mais rica e poética do que minha limitada escrita, é um prelúdio de muitos momentos felizes que o filme proporciona para nós!
Com roteiro assinado pelo Marcos Bernstein (Central do Brasil), baseado no livro “As Vidas de Chico Xavier” do jornalista Marcel Souto Maior com produção e direção de Daniel Filho (Dois filhos de Francisco e Se eu fosse você 1 e 2), o filme tem inicio com uma espécie de “pedido de compreensão” da produção, explicando que a complexidade do personagem e de suas histórias é tão grande que seria impossível abraçar todos os detalhes de sua trajetória.
Desconfianças pessoais a parte com essa iniciativa, o filme foi tratado sem partidarismo. Ou melhor, o único time que manda em todo roteiro é a prática da caridade. Ela é a protagonista principal personificada em Chico Xavier e reforçada pela popularidade e função social do médium na promoção do bem, e não da religião.
É uma história comovente com alfinetadas morais em inúmeras situações, sempre a partir das ações do personagem título, e não somente pelo discurso. Essa característica ganha seu auge nas provações que o personagem precisa passar para se apropriar de sua mediunidade, no novo sentido e significação da dor, sofrimento, resignação e doação que o Amigo “X” se propõe vivenciar a partir de sua escolha, e não de uma imposição.
A fase da infância contém as cenas mais belas e bem construídas não só pela fotografia de ambientes internos e externos, mas principalmente pela maneira em que são retratadas as dificuldades que uma criança enfrenta ao dizer para as pessoas que ouve, vê e conversa com espíritos.
Em diálogos, não ha nada mais divertido do que as conversas de Chico com Emmanuel, seu mentor espititual a quem atribui as orientações espirituais. Não gostei muito do ator que o interpreta, mas a química dos dois rende cenas hilárias.
Técnica e elenco
Em um filme que fala sobre espíritos, manifestações ocultas e mistérios de varias naturezas é mais que esperado algum efeito especial, não é? O filme usa o recurso de forma pontual e de forma dosada. A cena em que observamos mais o recurso é no inicio da primeira psicografia feita por ele, onde recebe a primeira mensagem de sua mãe morta durante a infância dele. Uma cena forte com uma "jogada" de câmera inteligente!
A edição é muito feliz na grande maioria dos momentos tendo mérito honroso já que uma narrativa mista, como é a do filme com constantes “flash back”, deve ser trabalhado com muita cautela. A produção do figurino e da maquiagem é precisa e somam no conjunto construtivo das cenas, desde a caracterização dos atores até objetos de apoio dos atores.
As inevitáveis ressalvas do filme começam com o elenco. Eu não consigo desvencilhar a Cristiane Torloni (Gloria) ou o Tony Ramos (Orlando) das novelas globais, e mesmo com a expressiva dedicação e esforço deles fica difícil “engolir” algumas cenas. Muito mais pela Torloni que não acerta no tom dramático de sua personagem Glória, mãe de um rapaz morto acidentalmente pelo amigo e por isso rancorosa, amargurada e endurecida.
Mas Giovanna Antoneli, em um momento primoroso de interpretação, conseguiu me emocionar com sua personagem Cidália, simples e acolhedora. Além dos interpretes de Chico Nelson Xavier (1969/1975), Ângelo Antonio (1931/1959) e Matheus Costa (1918/1922) serem aquilo que nós esperamos que um ator seja ao assumir um personagem tão emblemático como esse.
Um destaque maior para a personagem de Giullia Gan, Rita, a madrinha malvada de Chico que praticava todas as violações de direito do E.C.A. durante a infância de Xavier. Ela está assustadoramente perfeita na curta, mas densa aparição no filme.
Assisti ao filme na maravilhosa companhia da Inara e do Fran, que não quis tirar uma foto. Ao sair, encontramos essa fila enooorme ai pra ver ao filme! A nossa era quase to tamanho desta!
Por que assistir ao filme de Chico Xavier?
Para os emocionais:
Em um mundo onde muitas pessoas tem necessidades de exemplos e representações para respaldar suas escolhas, o filme mostra sem pieguices ou "charlatonismos" a importância social do maior exemplo contemporâneo de nosso país da pratica da tolerância, do amor ao próximo, da resignação e doação aos seus propósitos. Ele mostra a importância do admitir-se errado e a necessidade do recomeço.
Para os mais “críticos”:
Esse filme é técnica e esteticamente uma satisfação cinematográfica. Excelentes atuações e recortes em 95% das cenas. A narrativa passa longe de dramalhões e apelações que tanto nos incomodam no cinema nacional. O filme é Cult e popular. Poucos conseguem conquistar tanto.
É conhecer para saber falar, mesmo que seja mal.
É conhecer para saber falar, mesmo que seja mal.
Trailer do Filme:
Comentários
Li sua critica com relação aos filme e fiquei maravilhada com a sua crítica. Antes mesmo de assistir ao filme, já havia lido o livro que conta da "sua vida". Foi um filme que não criei expectativas. Adorei o que assistir. Apesar de ter saído da sala de cinema com uma vontade de ter incrementado no filme cenas de medo, apariçõe...só para da mais um impacto. Mas percebi depois que o filme foi tão simples e agradável que me vi feliz por yter ido assistir a este filme brasileiro e de muita qualidade.
Sancha
É sempre agradável poder ler seu blog, pela possibilidade de poder perceber e compreender as escolhas das cores que você dá nas suas escritas, seja com tons suaves e vibrantes. Logo não poderia ser diferente em relação as palavras dedicadas ao filme, um belo expressar.
Juliana Pessoa
"a caridade é a real protagonista" - é a candeia literária com que tu bem explicas o filme. Sim, o filme é simples, mas não simplório; é belo, mas não espetaculoso; é terno, com gosto de quero mais. São 125 minutos tão rápidos, que garantem, mais uma vez, razão à relatividade de Einstein.
Enfim, o filme é tão bom quanto a tua narrativa; que eu li como se ouvisse tua voz em nossas conversas - que,também, dispensam o tempo! Eita, cientistazinho bom esse Einstein...
Parabéns pelo texto e pela publicação no site - já mostrei para um monte de gente:"Ei, foi minha amiga que escreveu, viu!"
Beijos e Força Sempre!
Adorei ter ido contigo e melhor ter tuas primeiras palavras ainda quando a gente saia do cinema, é pra poucos tá!!!ahahahhaa
Só não gostei da nossa foto, pareço gorda!!!!Mas enfim...
Alice nos espera!!!!
Vim conferir a sua crítica do filme do chico xavier. Como não assisti o filme, vou me limitar a comentar a sua crítica.
Acho que análise está bem estruturada, falas em diferentes aspectos do filme com objetividade. Do roteiro à edição, da fotografia às performancesdos atores (ah sim, senti falta da trilha sonora).
O uso de tecnologia em filmes que não são blockbusters costuma ser marginalizado quando se trata de críticas. É como se comentar tecnologia pra cinema só pudesse ser feito em filmes como Transformers, Spiderman e afins, quando na verdade, um uso "dosado" em filme nacional merece sim ser criticado e valorizado. Sem críticas, sem avanços.
A tua opinião não se manifesta de maneira tendenciosa, apesar de em alguns momentos ter notado um certo partidarismo a favor do filme, talvez pela escolha das palavras. Uma sugestão seria o cuidado com a tendência ao hiperbolismo associado ao que pensas além do que o filme de fato representa ou apresenta.
Sabe quando lemos um poema e gostamos tanto (por vezes em razão de coisas que nos são pessoais, como eu acho que o espiritismo é pra você) que o intitulamos "a melhor peça de literatura já escrita", quando na verdade, estamos analisando a obra além dela mesma. Adjetivar é descrever a verdade como ela é, sem exageros. [por algum motivo me lembrei agora do Nelson Rubens e sua frase "Eu aumento mas não invento" hehe].
Por último, fiquei com a impressão também que o filme não tem falhas. Algumas atuações e as tuas incertezas ainda na pré-produção foram os únicos pontos negativos que li.
No mais, fico feliz que a expectativa que tinhas não foi em vão. Inara me contou também que adorou. Gostei da foto, e concordo com a Inara, ela parece gorda ehehe, desculpa Inara.
É isso, continue escrevendo, é muito saudável pra sua profissão e você demonstrar ter paixão por ela ;)
Até amanhã.
Igor
atores Globais é mesmo bem tenso, pela imagem que já está encrustada em nossas mentes das atuações chatas e mal interpretadas em novelas.